quinta-feira, 21 de maio de 2009

Contos de blogue agora em livro


Pessoal, está chegando o dia do lançamento do Blablablogue - Crônicas & Confissões, antologia que reúne 21 autores de contos de blogues, quando estrearei em livro e ao lado de autores bem conhecidos e dos quais sou fã há muito tempo. Agradeço por todo o apoio, acompanhamento, críticas e elogios que recebi de vocês desde que inaugurei este blog, há pouco mais de um ano. Sem isso, não teria como chegar até aqui. Estou muito feliz, e adoraria compartilhar com vocês um pouco desse estado de espírito no dia do lançamento.
Apareçam! Vou adorar receber o abraço de cada um de vocês no sábado 30 de maio (vejam convite acima)

Para explicar melhor do que trata esse livro, nada melhor do que o texto do Nelson de Oliveira, o organizador da antologia.

A palavra é febre.

Quem pegou o início desse fenômeno de comunicação que em pouco tempo se tornou a blogosfera sentiu em primeira mão um tipo diferente de febre. A febre da liberdade digital. Da democratização da palavra escrita.

Essa febre, essa excitação, essa compulsão é tão contagiante que, uma década depois, o número de blogues no ciberespaço tem crescido de forma exponencial. Atualmente existem perto de 140 milhões de blogues e cerca de 120 mil são criados diariamente (1,4 por segundo).

A maioria das pessoas utiliza os blogues como um diário pessoal, porém eles podem veicular qualquer tipo de conteúdo e ser usados para os mais diversos fins: artísticos, jornalísticos, científicos, políticos, religiosos, corporativos, comerciais etc. A blogosfera ampliou o mundo natural, social e mental.

Como eu disse, a palavra é febre. Muitos a amam, muitos a odeiam. É verdade: tem gente que passa várias horas diárias cultivando seu espaço virtual. Mas tem gente que detesta a cultura blogueira.

Além da possibilidade de interação quase instantânea com os visitantes, a grande diferença entre os blogues e a mídia tradicional, impressa, é a velocidade. Um artigo que levaria horas, dias ou semanas para ser publicado numa revista de papel pode estar disponível em poucos segundos para a leitura num blogue.

O critério usado na seleção dos blogueiros cujos posts compõem este livro foi o mais subjetivo possível: meu gosto pessoal. Por ser escritor, eu preferi ceder a essa inclinação e ficar na deliciosa esfera da crônica e da confissão literária.

Os vinte e um blogueiros convidados para participar desta antologia são todos escritores: onze veteranos de prestígio reconhecido, com livros já publicados, e dez bons estreantes a caminho do reconhecimento. A cada um deles eu pedi que selecionasse os melhores posts publicados nos respectivos blogues.

O resultado: dezenas de crônicas e confissões de escritores deliciosamente febris.

Nelson de Oliveira

Nelson de Oliveira nasceu em 1966, em Guaíra (SP). É professor universitário, editor e autor dos livros Ódio sustenido (Língua Geral, 2007), Algum lugar em parte alguma (Record, 2006), A maldição do macho (Record, 2002) e Subsolo infinito (Companhia das Letras, 2000), entre outros. Dos prêmios que recebeu destacam-se o Casa de las Américas, o da Fundação Cultural da Bahia, duas vezes o da APCA e o da Fundação Biblioteca Nacional. Atualmente coordena, em diversas instituições, oficinas de criação literária para autores em início de carreira.


sexta-feira, 1 de maio de 2009

Marcas na pele

A massa se move no firmamento num vôo largado, num sono de morte que se repete desde tempos imemoriais. Sem destino nem esperança, como nave de um corpo só ela vaga pela imensidão utilizando apenas seus sensores em busca de um pouso que lhe dê alguma paz e o alimento vital. Até que sente uma suave vibração vinda de um ponto especial embaixo dela. Leve, mas o suficiente para que seus sentidos aguçados lhe indiquem o caminho, e então se deixa cair.

Quando dá por si, está numa rua erma de uma cidade qualquer, que se divide em casas de alto padrão de um lado e um condomínio de luxo do outro. Em suas bunker-guaritas, os seguranças estranham a mulher que surge de repente, mas logo desviam a atenção. Imaginam que deva ser alguma visita saindo de uma das residências, pela forma como se veste e anda.

A tarde mergulha na noite, levando com ela os derradeiros traços púrpura de um céu onde a lua começa a se impor. Embora o último fio de claridade fira seus olhos, nada é novo para essa mulher de existência trágica e solidão sem fim. Mais um vôo, mais um pouso e a certeza de que Lucius, o maldito, logo virá em seu encalço. Mas desta vez sente algo diferente, não sabe precisar o quê.

Comandada apenas pelos instintos, ela se aproxima do ponto exato que a atraiu: uma janela no segundo andar de um casarão branco. Em segundos, Aurélia se vê lá dentro, invisível a olhos humanos. É um quarto de rapaz, que cochila sobre os livros. Do computador ligado sai música agitada, percussiva. Ele acorda como que pressentindo algo, olha para trás aparentemente incomodado, mas logo decide esticar o corpo na cama, vestindo apenas uma bermuda justa. Aurélia aproveita para observar o garoto num sono à solta, barriga para cima, braços cruzados sob a cabeça, um pé apoiado em ângulo sobre a outra perna dobrada, totalmente relaxado.

É a mais pura beleza em pele bronzeada, músculos precisamente definidos. Não deve ter mais que 17 anos. Sua vontade é pular sobre ele e sugar sua vida, mas Aurélia se contém. Para ela só vale se for consentido, nem que a sedução seja trabalhosa. Com esse propósito, vaga pelo quarto em busca de dados sobre a presa. Pelos livros na escrivaninha, descobre que está no cursinho e se prepara para o vestibular de Odontologia. Pelas fotos, vê que é de família abastada, viaja bastante, tem um irmão mais velho, uma irmãzinha pequena e muitos amigos.


Quer saber como essa história termina? Clique aqui para ver o desenrolar dessa trama .

(*) Texto feito em parceria Laura Fuentes & Petê Rissati, do Vermelho Carne