terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Like a virgin



Se tem coisa que perturba uma mulher, essa coisa atende pelo nome de “pelo”, sobretudo quando ele resolve aparecer nos lugares mais absurdos: na região entre a boca e o nariz (para não chamar de bigode, porque isso magoa), parte lateral do rosto, ponta do queixo, em volta dos seios e por aí afora. Tenho a pele clara, nunca tive muitos desses invasores, e os que apareceram vez ou outra, eu os aniquilei na base da pinça mesmo e nunca mais voltaram. No entanto, sem querer fazer trocadilho, os pelos abundam nos meus países baixos e avançam para as coxas, um horror.


Tem homem que adora mulher peluda, sei disso e já me fartei bastante com tarados desse tipo. Mesmo assim, ao longo da minha vida adulta, a depilação passou a ser uma obrigação mensal e ligeira, porque tive a sorte de morar por muitos anos no quarteirão vizinho ao da melhor depiladora do bairro. O problema foi quando mudei de casa e de região.

De início, eu atravessava a cidade atrás da Vanusa (esse o nome da minha “ex”), mas perdia tanto tempo com isso que resolvi conhecer as depiladoras do pedaço. Sofri nas mãos de umas três, cada qual com seu método, mas todas péssimas: os pelos eram apenas cortados e acabavam encravando, a pele ficava irritada, e todas se dizendo superespecialistas no assunto . Até que perguntando na academia, indicaram-me a Grace. Não perdi tempo, marquei hora e lá fui eu, inocente.

Lá chegando, tomei um susto: a mulher tinha quase 1.80m, era loura e forte, mais parecia uma tenista russa. Pensei em fugir, juro. Mas não deu tempo, muito sorridente, ela me convidou a deitar. Tentei brincar mais para acalmar a mim mesma: Então é você quem vai me torturar? Torturar? Imagina, eu não judio de ninguém, você vai ver, respondeu ela com a voz possante que me levava a duvidar. Percebendo o meu receio, Grace foi contando que tinha 15 anos de experiência, e que estava atualizada com as novas tendências.

Isso me deu uma ligeira acalmada, a ponto de eu pensar “Bom, já que vim, agora é encarar”. É virilha, né?, perguntou aquela espiã vinda da Cortina de Ferro. Siiiim”, gaguejei, logo tratando de explicar, mas só o contorninho, viu? Não vou à praia tão cedo...” .

Parece que Grace não me ouviu. Daí para a frente, ela foi tomada pelo espírito vingador de todas as mulheres, e me depilou tanto que eu temi sair de lá com xoxota de anjo. De repente, me mandou virar de costas. Pensei que ela ia tirar os pelinhos remanescentes da junção da coxa com a virilha. Ledo engano: ela mandou cera em toda a minha bunda, e não restou um único pelinho do cu para contar história, e tudo isso em silêncio e num curtíssimo espaço de tempo. Justo eu que nunca havia depilado o ânus com medo que doesse, descobri que é a região mais tranquila.

De repente, ouvi Vira pra cima, que ainda quero tirar na pinça um ou dois insistentes. Virei. E lá veio ela procurando os teimosinhos tão de perto, que cheguei a sentir o calor de seu hálito em meu clitóris agora exposto. E sendo sincera, viajei na ideia dela sugá-lo com aquela boca pequena entre maxilares quadrados e bem masculinos.


Resumindo: fiquei viciada na Grace. Todo mês vou lá e deixo ela fazer comigo o que quiser sempre segundo a sua inspiração: às vezes saio de bigodinho, às vezes de ponto circunflexo, às vezes de gravata borboleta. Desde então fico semanas curtindo a sensação deliciosa de passar a mão na xoxota lisinha feito estrela pornô, sinto tesão só de me olhar no espelho ou simplesmente sentir o seu roçar com a calcinha. O namorado amou a novidade e fica só esperando o dia da depilação para conhecer o novo shape. E eu mais ainda porque arrumei um álibi: se o tesão continuar assim desgovernado e eu passar a pular demais a cerca, posso sempre dizer que a culpa é da Grace e pronto.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Um tempo para pensar




Atenção: escritora em manutenção.



(*) Caramujo by Georgia O'Keefe

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Adeus titio

Acaba de falecer Carlos Fuentes, meu tio-avô. Estou inconsolável.

Muito mais que um grande escritor, a América perdeu um homem de seu tempo – de seus tempos. Que soube defender suas idéias com tamanha inteireza, com tamanha elegância, com tamanha firmeza, que mesmo os que tantas vezes discordaram dele poucas vezes deixaram de respeitá-lo.

Titio acreditava no futuro. No futuro da América Latina, no futuro no ser humano. Acreditava que, em algum momento desse nosso eterno recomeçar, nós, da América Latina, deixaríamos de recomeçar e começaríamos de verdade. Aqui o artigo de Eric Nepomuceno na integra.

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20152&boletim_id=1191&componente_id=19125

Gosto de lembrar dele assim, sorrisinho maroto, entre os livros, o seu mundo.  Volto quando a saudade serenar.


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Arrebentação



coração


arrebentação


pororoca


escuridão


você topa?


não?


idiota.


No fim da linha tem um céu, acredite.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Escolho meus amigos não pela cor da pele





Loucos e Santos

"Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril."

Oscar Wilde


Se quiserem ver o Antonio Abujamra dando esse texto daquele seu jeito sempre visceralcliquem no link
http://youtu.be/HOyXnW16zbw

sábado, 28 de janeiro de 2012

A cagada do Pinheirinho




A desocupação do bairro do Pinheirinho tem sido assunto da midia nos últimos dias, e motivo de reflexão de todos. Mas em vez de tentar expressar toda a minha indignação, coloco aqui o link do blogue da Soninha, jornalista e ex-vereadora por São Paulo. Concordo totalmente com ela, para quem aquilo tudo é fruto de um conjunto de omissão, covardia e descaso das autoridades.



Pior é que existem pessoas que dizem: "Esses sem-teto, sem-terra, sem-nada são um bando de gente querendo se dar bem sem esforço". Coitados, blindados dentro de seus bens, eles só podem estar cegos.






Este é o primeiro de 4 posts dela sobre o assunto. Tente ler todos, ela vai fundo. E depois me diga o que pensou. Está aberto o debate.


(*) Foto de Sarah Moon, fotógrafa francesa nascida em 1941.


sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mottainai!


2011 acaba amanhã e, baseados em antigas previsões, muitos dizem que tudo acabará em 2012. Será? Essa possibilidade tem tirado o sono de tanta gente, mas eu prefiro não perder tempo com esse tipo de coisa. Mas não posso evitar de ficar meio melancólica, sorumbática neste periodo, mesmo com toda a agitação das Festas.

Semana passada eu viajei, peguei a revista 29 horas (disponível nos principais aeroportos), guardei-a na mala, e só ontem consegui abri-la. E logo me deparei com matéria da minha amiga Chantal Brissac trazendo depoimentos de Lia Diskin, argentina que vive no Brasil desde 1971, quando ajudou a formar a Associação Palas Athena (que agencia e incuba projetos sociais e educacionais) e que está por trás de algumas das mais concretas e persistentes iniciativas pela paz e pela convivência entre as pessoas.

Nessa matéria, Lia reflete sobre a questão do consumo e como ele afeta o meio ambiente. Ela cita o grande pensador Confúcio que 2.500 anos atrás já dizia: "Nada é bastante para quem considera pouco o que é suficiente". Gandhi, por sua vez, sempre repetia: " Todo aquele que tem coisas de que não precisa é um ladrão", referindo-se ao fato de que, quando você guarda algo que não usa, automaticamente está impedindo que outra pessoa o utilize. Lia garante que, se Gandhi vivesse hoje, sua maior luta seria parar a onda desenfreada de consumo.

Ainda tem muita gente morrendo de fome no planeta, mas continuamos desperdiçando alimentos. Estamos caminhando para uma falta de água universal, e ainda assim nossos banhos são longos e as torneiras ficam abertas mais tempo do que deveriam. Produzimos lixo em quantidades absurdas e inconsequentes, seguimos trocando celulares e eletronicos sem real necessidade. É que talvez a nossa preocupação ainda não tenha se transformado em indignação.

Mas felizmente, embora de maneira lenta, as coisas estão mudando e muitos vêm trocando o individualismo pelo coletivo. E já tem jovens trocando carro pela bicicleta, viagens caras por temporadas de trabalho e troca de experiências em aldeias indígenas ou africanas ou ajudando a transformar seus bairros em ecobairros. Na Europa há até prédios adotando esquemas de eletrodomésticos e carros compartilhados.

Então, copio Lia Diskin e ecoo aqui a palavra japonesa
"Mottainai!" que significa "que desperdício!". Que ela seja a nossa guia e esteja na ponta da lingua para ser dividida e multiplicada. Só assim poderemos viver melhor, e sem culpas, o tempo que nos resta. Feliz 2012 e sempre.