sexta-feira, 30 de maio de 2008

Sistema muito pessoal de convicções

  • Seduzir é surpreender o desejo onde ele se esconde.
  • Se a alma não é pequena, justamente carece selecionar.
  • Me ame quando eu menos merecer, pois é quando mais preciso (provérbio chinês).
  • Devagar se vai ao longe, mas isso toma tempo demais.
  • Diga-me com quem andas, e eu te dou a ficha de todos.
  • Amigos amigos, não se deve descartar alguém só por isso.
  • Aprender é mudar (Buda Sakyamuni).
  • Enquanto existe vontade de aprender novas coisas, novos caminhos, existe juventude.
  • Cuidado com os medíocres. Além de numerosos eles estão à espreita.
  • Amor com amor se paga, mas sem exigir o troco.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Fé no taco

Versão dele:

A dona era filé mignon, coisa fina. Me tratava bem, me chamava e me queria. Nunca entendi o que ela viu em mim, um pobre taxista, coisa comum, nada especial. Do aeroporto para a casa dela, bairro de bacana, eu não tirava os olhos do retrovisor...aqueles coxões. Danada ela, cruzava e descruzava as pernas, procurando meu olho no espelho, pondo pilha. Tentei manter a compostura. No final, deixei o cartão. Pode me chamar quando precisar. E ela, pelo visto, precisou mesmo, porque dias depois me chamou para um serviço. A corrida foi curta, mas a volta na casa dela foi bem demorada. Mulher gostosa, cara. Só que devia ser muito sozinha, porque grudou. Queria namorar, jantar fora, barzinho e tal. Aquilo me assustou, confesso, mas tava bom e fui levando. Só ligava pra ela quando o tesão era muito, então já chegava chutando a porta e enchia a dona de carinho, no capricho. E ela gostava, isso eu sei. Até que, de repente, ela foi parando de ligar, atendia minhas chamadas de jeito frio. Comecei a ficar inseguro. Será que não tava comendo ela direito? Ou era barrigudo demais? Não, acho mais é que ela arrumou outro cara de pau maior...sempre tive raiva do meu ser tão pequeno. Na real, acho que foi por isso que ela me esqueceu. Mas, fazer o que? Vai ser difícil encontrar outro material como aquele...

Versão dela:

Eu voltava de um congresso em Paris, doida para chegar em casa, quando entrei no táxi de um motorista muito interessante. Olhos gulosos, ele me encarava, fiquei meio sem graça, mas bem que gostei. Afinal, desde que o Paulo foi embora, estava sem ninguém. Quando paguei a corrida, ele, insinuante, me deu um cartão de visita oferecendo seus serviços, podia chamar a qualquer hora. Pensei comigo: “Ótimo, numa hora que eu estiver precisada, arranhando azulejo, ligo mesmo”. Não demorou muito, tinha que levar uns documentos para um cliente, então chamei o Martinez. A corrida foi curta. Na volta convidei-o para um café, aceito de pronto. Bonitão e sexy, ele logo foi falando como eu era linda, atraente e tal e já foi logo me abraçando por trás. Não resisti. Transamos ali mesmo, no sofá. Que homem gostoso! Deu conta da minha carência de meses e foi embora deixando vontade de repeteco. E eu o quis muitas vezes. Meu erro foi começar a contar com ele. Chamei para ir ao teatro, ele não quis. Cinema? Sem chance, tinha trabalho. Saída para uma cervejinha? Não podia, tinha que pegar um cliente. Dormir e amanhecer comigo? Nem pensar. Decerto foi essa irritante e imensa bunda minha que o deixava envergonhado de circular comigo pelai. Ou o peito caído. Vai ver me achava velha. Eles querem sempre é carne tenra, durinha. Seja o que for, comecei a ficar insegura e já não me soltava na cama. Fui esfriando, e quando ele ligava, já não o chamava para vir. Hoje estou feliz, namoro um cara bacana, achei o companheiro que procurava. Mas nunca vou esquecer daquele taxista. Nossa, como a gente se curtiu...Hum, que saudade daquele pauzão enorme que ele tem e que manda bem como ninguém....

terça-feira, 13 de maio de 2008

Álbum

Eu aqui, às voltas com o trabalho, duas planilhas enormes para concluir, uma apresentação para montar, completamente imersa nisso, toca o celular. Atendo distraída. Maria Eduarda? Como vai você? Ando pensando tanto naqueles nossos tempos e sinto saudade. Queria tanto te ver, é possível? É o Cássio, não acredito! Aquela voz que, por tanto tempo esperei ouvir. Um filminho passa em mim. Sofri, comi o pão que o diabo amassou. Engordei, criei calos na alma, envelheci. Mas, aos poucos, fui buscando forças para esquecer. Catando um pedaço aqui, outro acolá, fui reconstruindo um novo eu. A esse pão amassado, aos poucos fui adicionando novos temperos e, dele, fiz um pudim tão saboroso, que muitos quiseram provar. Alguns eu deixei. Desses, uns gostaram tanto que quiseram ficar. Mas ainda não estou pronta. Preciso reformar o ninho, refazer o enxoval de mim, até estar fortalecida para amar de novo. Madá, você está me ouvindo?Não fica assim calada. Diz alguma coisa. Sei que fui meio canalha. Me xinga, mas não fica assim quieta, por favor. Me dá uma chance de explicar o que aconteceu. Ao ouvir o "Madá" (só ele me chama assim) as lágrimas vêm e engolem as palavras. Desligo imediatamente, vou ao toalete secar os olhos e retocar a auto-estima, repetindo um velho e infalível mantra: figurinha repetida não enche álbum/ figurinha repetida não enche álbum/ figurinha......Repito tanto que decido: vou aproveitar a hora do almoço para comprar um novo celular, último tipo, bem lindo, e com novo número.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Citando a grande escritora

Hoje reflito sobre o prazer, e busco inspiração nos mestres. Aqui, um trabalho da poeta portuguesa Maria Tereza Horta, que estes dias está em São Paulo em palestras.

GOZO IX

Ondula mansamente a tua lingua
de saliva tirando
toda a roupa...

já breves vêm os dias
dentro de noites já
poucas.

Que resta do nosso
gozo
se parares de me beijar?

Oh meu amor...
devagar...
até que eu fique louca!

Depois... não vejas o mar
afogado em minha
boca!

PS: Obrigada, Lucinda por ter me enviado essa preciosidade.




domingo, 4 de maio de 2008

Largado

Ela bate a porta sem olhar para trás, deixando o rastro de seu perfume amadeirado, forte como ela. Parece que tem medo de mudar de idéia e voltar. Ou, se como naquela lenda, ao olhar pra trás ela pudesse ser transformada em estátua de sal, condenada a eternizar aquele momento ad infinitum.

Fico aqui, nu, sem vontade de sair da cama, e como sempre desorientado. Toda vez, depois de amar essa mulher, me sinto eu próprio condenado a esse estranho e aflitivo sentimento sobre o qual não tenho o menor controle. Longe dela sinto falta, me revolto, insulto a mim próprio, tento negar, fugir dessa estranha relação, mas não tem jeito: acabo cedendo, rendido de saudade e fome, e uma vez perto, viro seu brinquedo, totalmente à mercê desse encanto.

Foi numa festa que tudo começou. Eu entre amigos conversando à toa, feliz com minha vidinha: o trabalho, o curso de pós graduação, e a namorada que administrava muito bem, de forma leve e tranqüila. Até passar aquela mulher, ar vago, sem olhar nem para mim, nem para ninguém. Não que fosse excessivamente bonita, mas era alta, vestia-se de forma despretenciosa mas muito pessoal, cabelos fartos caindo em cachos pelos ombros, olhos enormes, escuros e ovalados, chamava a atenção. Como que pairando sobre o ambiente, ela foi direto à mesa de frios. E, nesta época onde tantos e tantas se preocupam com dietas, dava gosto ver como comia. Experimentava de tudo, saboreando cada coisa. Estava entretida nesse jogo de paladar, quando não me contive, cheguei perto, e baixinho, soltei perto de seu ouvido um tudo bem Magali? Ela entendeu a alusão à personagem comilona dos quadrinhos, sorriu meio envergonhada me olhando nos olhos, e aquele olhar foi definitivo. Caí direitinho. Logo voltei para os meus amigos, perdi de vista a morena, mas não a esqueci. Antes de partir, fiz questão de dar uma volta pela festa e não sosseguei enquanto não a encontrei. Ela estava conversando com um grupo de pessoas e, sem saber se estava ou não acompanhada, estendi-lhe o meu cartão, dizendo apenas me liga para falarmos daquele projeto.

Não deu outra. Dia seguinte, final do expediente, toca o meu telefone direto. Oi, tudo bom? Aqui é a Magali. Queria falar sobre o projeto, é possível? Pode ser amanhã, 16 horas, no Café Piazzito? Conhece o lugar? Feliz com a ligação, concordei na hora. E lá fui eu, com minha melhor camisa encontrá-la. Pouco falamos durante o café, sequer nos beijamos, mas nos bolinamos bastante. Em meia hora, no máximo, atravessávamos a rua rumo ao hotelzinho, desses de bairro, que havia bem na frente do Piazzito. Mal saímos do elevador, em busca do apartamento, já fomos nos roçando. Mais parecia coisa de bicho. Uma vez fechada a porta, veio um beijo tão urgente e tão faminto que nos atordoou. E foi assim que nos arrancamos as roupas, nos esfregamos, e nos consumimos ávidos um pelo outro. E ela chorou, gemendo baixo na hora do gozo, totalmente entregue. Ficou quietinha assim, deitada nos meus braços, alguns minutos, o suficiente para eu me sentir o mais feliz dos homens.

Durou pouco esse estado de entrega pois logo ela estava se vestindo, dizendo que tinha pressa, e depois de roçar seu rosto pelo meu, respirar longamente no meu pescoço, como que querendo reter meu cheiro, ela me deu um longo beijo de adeus, e se foi, batendo a porta, me deixando completamente aturdido. Nunca tive prazer tão intenso em toda a vida. Que mulher era aquela?, eu me perguntava quando reuni forças para sair daquela cama, daquele quarto e daquele hotel barato.

Quinze dias depois, novo telefonema. Oi, aqui é a Magali. Quer se encontrar comigo amanhã a mesma hora, no mesmo lugar? Claro que eu quis, mesmo tendo que cancelar uma reunião com meu melhor cliente. E de novo o café foi rápido, e a transa demorada, intensa e animal. Mistura total de corpos e línguas, sedes e seivas. De novo ela chorou, e de novo me largou lá, feito brinquedo usado. Mas quem é essa mulher? Será casada? Da onde vem? Por que chora na hora do gozo?

Isso vem durando um ano. Não passa um mês sem que ela me acione, e eu sempre cedo, tanta falta ela me faz. Ando tão fixado nela que venho achando sem graça transar com a namorada, ando frio na relação, e ela, triste, até já ameaçou acabar com tudo. Meus sócios também têm reclamado das ausências sem explicação. Não consigo tirar a morena da cabeça, está virando obsessão. Já tentei impor outro horário, outro lugar, uma viagem, tentar descobrir seu nome, a placa do carro (se é que tem, pois sempre que chego ela já está sentada no café me esperando), mas nada. Ela liga sempre para o escritório, não tenho como localizar a chamada. Como quem não quer nada, cheguei até a perguntar ao dono daquela fatídica festa, amicíssimo da minha namorada, quem era aquela morena, mas ele disse desconhecer, acha que ela veio com algum amigo de amigo.

Até agora, ninguém sabe que vivo essa história e esse conflito. Essa mulher é o meu maior e melhor segredo. E também a minha tortura. Mas um dia ainda saio dessa, ou enlouqueço, dominado de vez.