quinta-feira, 28 de julho de 2011

Mutilação





Ando sensível, mais parecendo um ouriço arrepiado, e tudo me faz refletir. Dia destes, conversando com amigos, soube o que um marido, na sua extrema simplicidade, disse para a mulher, recém-diagonosticada com câncer, e que teria que passar por uma mastectomia, o que para ele era uma forma de consolo: Não fica triste, não. Prá que eu preciso de dois peitos se eu tenho uma boca só?


Alguns o julgaram grosseiro. Já eu procurei ver o quanto tinha de compaixão naquelas palavras singelas, uma espécie de promessa de cumplicidade, acolhimento e companheirismo frente a uma situação que abala qualquer mulher com uma fúria descomunal.


Esse caso me fez lembrar o velho mito das amazonas, guerreiras da antiguidade que, segundo a lenda, tiravam o seio direito para melhor manejar o arco e a flexa, e assim defenderem os seus domínios. Consideradas Deusas da Guerra, as amazonas odiavam os homens (que insistentemente tentavam usurpar seus bens e seu território) e viviam em comunidades só de mulheres na Capadocia (região rochosa que hoje pertence à Turquia). Se elas existiram de fato, se é mito ou lenda, não se pode afirmar. Mas há um pé de verdade nisso, porque etmologicamente falando, a palavra amazonas vem de "a-mazós", ou seja, "sem-seios".


Essa digressão me leva à seguinte questão: em que espécie de amazonas nós, mulheres, nos transformamos, já que - com ou sem peitos - vimos sendo levadas a nos defender com tudo o que podemos contra todo o tipo de ameaça? E, nesse processo de defesa, quanto da nossa feminilidade vamos perdendo pelo caminho?