2011 acaba amanhã e, baseados em antigas previsões, muitos dizem que tudo acabará em 2012. Será? Essa possibilidade tem tirado o sono de tanta gente, mas eu prefiro não perder tempo com esse tipo de coisa. Mas não posso evitar de ficar meio melancólica, sorumbática neste periodo, mesmo com toda a agitação das Festas.
Semana passada eu viajei, peguei a revista 29 horas (disponível nos principais aeroportos), guardei-a na mala, e só ontem consegui abri-la. E logo me deparei com matéria da minha amiga Chantal Brissac trazendo depoimentos de Lia Diskin, argentina que vive no Brasil desde 1971, quando ajudou a formar a Associação Palas Athena (que agencia e incuba projetos sociais e educacionais) e que está por trás de algumas das mais concretas e persistentes iniciativas pela paz e pela convivência entre as pessoas.
Nessa matéria, Lia reflete sobre a questão do consumo e como ele afeta o meio ambiente. Ela cita o grande pensador Confúcio que 2.500 anos atrás já dizia: "Nada é bastante para quem considera pouco o que é suficiente". Gandhi, por sua vez, sempre repetia: " Todo aquele que tem coisas de que não precisa é um ladrão", referindo-se ao fato de que, quando você guarda algo que não usa, automaticamente está impedindo que outra pessoa o utilize. Lia garante que, se Gandhi vivesse hoje, sua maior luta seria parar a onda desenfreada de consumo.
Ainda tem muita gente morrendo de fome no planeta, mas continuamos desperdiçando alimentos. Estamos caminhando para uma falta de água universal, e ainda assim nossos banhos são longos e as torneiras ficam abertas mais tempo do que deveriam. Produzimos lixo em quantidades absurdas e inconsequentes, seguimos trocando celulares e eletronicos sem real necessidade. É que talvez a nossa preocupação ainda não tenha se transformado em indignação.
Mas felizmente, embora de maneira lenta, as coisas estão mudando e muitos vêm trocando o individualismo pelo coletivo. E já tem jovens trocando carro pela bicicleta, viagens caras por temporadas de trabalho e troca de experiências em aldeias indígenas ou africanas ou ajudando a transformar seus bairros em ecobairros. Na Europa há até prédios adotando esquemas de eletrodomésticos e carros compartilhados.
Então, copio Lia Diskin e ecoo aqui a palavra japonesa "Mottainai!" que significa "que desperdício!". Que ela seja a nossa guia e esteja na ponta da lingua para ser dividida e multiplicada. Só assim poderemos viver melhor, e sem culpas, o tempo que nos resta. Feliz 2012 e sempre.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Mottainai!
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sábado, 10 de dezembro de 2011
Mil tsurus
Minha querida amiga, a Tereza Yamashita, está participando de uma exposição com a mostra com o nome sugestivo e meigo que vocês podem ver aqui encima. Nela, ela nos brinda com mil tsurus , aquele origami mais famoso no Japão e que representa essa ave tão sagrada para eles.
Além de autora de livros infantojuvenis fantásticos, Tereza é designer gráfica e origamista de mão cheia. Não deixe de passar lá para conferir a delicadeza de seu trabalho.
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domingo, 4 de dezembro de 2011
Bafinho ou bafão?
Roberto jamais soube porque o nosso caso não foi para frente. Trabalhávamos juntos, tinhamos o incentivo de todos os colegas, valores e histórias parecidos. Havia atração e éramos livres, por que não tentar? Certo dia, resolvemos conferir toda aquela cisma amorosa. E ele bem que tentou, coitado. Foi carinhoso e eficiente nas suas manobras, mas simplesmente não conseguiu me empolgar. Quem diz que mulher não broxa?
Até hoje lamento essa impossibilidade, mas não dava para ignorar um terceiro elemento que se interpôs entre nós: o cheiro que desprendia de seu corpo e de sua boca, intolerável para mim, e que se acentuava cada vez mais, conforme ele transpirava no esforço de me agradar. Cheguei a ter náuseas. Foi constrangedor.
Curioso é que, tempos depois, Roberto foi alvo da paixão de uma colega linda, poderosa e casada, com quem manteve um tórrido romance que durou anos. Para ela, decerto o cheiro do meu amigo era atraente. Ou seja, o que repulsa um, pode ser o mesmo que atrai outro.
Parecia que esse espisódio frustrante estava sepultado dentro de mim para sempre, até que, dia destes, ao ler a última revista piauí, o artigo "Delação anônima" me remeteu a ele direto, e sem escalas. Fala de uma recém inaugurada Associação Brasileira de Halitose - ABHA, voltada para atender pessoas que querem dizer a alguém que ele tem bafo, mas sentem-se constrangidas de fazê-lo pessoalmente. Assim, a "vítima" recebe uma carta-padrão em sua residência ou trabalho, cujo texto é algo como "Um amigo próximo a você solicitou que entrássemos em contato para alguns esclarecimentos". Cheio de dedos, o texto discorre sobre as causas e o diagnóstico do mau hálito e oferece ajuda para informar, esclarecer ou mesmo indicar um profissional qualificado, garantindo o anonimato de quem teve a iniciativa.
Refletindo aqui com meus botões, busco na memória aquela velha história com o Roberto e as diferentes reações que ele provocava, e isso me leva à seguinte pergunta: fora os casos confirmadamente patológicos, você não acha que muitas injustiças poderão ser cometidas a partir desse novo serviço de delação anônima? Até porque cheiro e olfato são definitivamente coisas muito pessoais. Mas, na dúvida, antes se jogar fisicamente numa conquista, não custa nada, antes, conferir o bafo.
Na dúvida, já avisei meus amigos, meu amor e os parentes: se um dia parecer que eu comi um rato podre, por favor, me chama num canto e me diga isso baixa, discreta e amorosamente... não envolva mais ninguém nesse vexame.
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