domingo, 12 de abril de 2009

O melhor de uma mulher



Nunca vou esquecer aquela manhã. Acordei e a sensação era tão boa que nem conseguia abrir os olhos, queria prolongar o delicioso estado de felicidade plena. A noite passada tinha sido realmente maravilhosa e o quarto era um ninho quente-úmido. O André caprichou mesmo, eu pensava. Fiquei enrolando na cama, desfrutando o macio toque dos panos na pele enquanto flashes pipocavam trazendo retalhos da última e memorável entrega. Há muito não me sentia assim.
Ainda zonza, comecei a me espreguiçar languidamente, e com as pernas procurei o coadjuvante do último enredo para lhe dar o beijo-Oscar de bom dia, até que me dei conta que estava sozinha na cama.
Logicamente, imaginei, ele devia estar no banho, ou então havia descido para preparar o café. De repente veio uma vontade urgente de acarinhá-lo, mostrar o quanto ele era especial para mim, o quanto o amava, e curtirmos juntos aquele começo de dia depois da noite tão especial.
Bem devagarzinho fui então abrindo os olhos ainda melados enquanto rolava o corpo felino por sobre o colchão e, ao esticar o braço, senti que havia um papel sobre o travesseiro ao meu lado. Um bilhete de amor, pensei, toda feliz. Ainda deixei passar alguns minutos, até que finalmente sentei na cama. Mas o que li lá me deixou paralisada.

“Durante dias eu sofri sozinho, até que tomei coragem e, sem que você notasse, fui ajuntando minhas coisas. E resolvi que a vingança máxima seria te dar a melhor noite da sua vida, só para você se dar conta do que perdeu. Adeus.”

Na hora a ficha caiu, dolorosa, implacável. Com certeza André descobriu que eu transei com Aroldo, o seu melhor amigo. Foi uma coisa boba, um tesão passageiro que surgiu, e de repente nos vimos primeiro nos beijando na copa do escritório deles, depois num quarto ridiculamente erotizado de motel, e por último, cheios de culpa, na praia, num final de semana com casais amigos, quando demos uma fugida para um último encontro quando prometemos acabar com aquilo que poderia colocar em risco os nossos casamentos, e ainda magoar muita gente. Fazia mais de ano que aquilo acabara. Mas, sabe-se lá como meu marido descobriu.
Desde então ele desapareceu. Largou a empresa, o trabalho, os amigos, tudo. Arrependida até as entranhas, nunca tive a chance de me explicar ou tentar reconquistar o homem da minha vida, o único capaz de fazer brotar de mim, o melhor. Até que tentei, mas jamais encontrei alguém que chegasse a seus pés. Optei por ser só, e amargar o peso da culpa até eu mesma me perdoar. André acertou na vingança.

* A imagem acima é um trabalho do artista plástico Marco Paulo Rolla.

10 comentários:

Gaby Almeida disse...

Sem palavras... post muito bom...

Karen Cunha disse...

nem sempre eu sei o que dizer quando entro aqui...

Rafael Cury disse...

Na falta de algo mais inteligente para dizer: simplesmente adorei! Beijo.

Laura Fuentes disse...

Gente, obrigada pela visita. E Karen,
aqui tudo é fantasia...diga só o que vier no coração.

Deise disse...

Ui, que mancada...
Vc é ótima Laura, adorei

Marcos Pontes disse...

Certos erros só se comete uma vez, é como atravessar a avenida de olhos fechado.

Beatriz disse...

Roleta russa compulsiva. Perdeu o homem DA vida mas ganhou frisson

Petê Rissatti disse...

Wow... pancadaria pura esse texto. Amei.

Laurinha, deu até vontade de fazer um recortezinho desse texto. A empregada? Aroldo? A mulher do Aroldo? Que fazer?

Beijos

Laura Fuentes disse...

Uau, Petê, sempre que você faz isso, você só me envaidece. Faça isso que coloco o link da sua história no Vermelho Carne aqui.
Acho ótimo que escritores gostem das minhas histórias e se inspirem para criar novos recortes de outros pontos de vista.

Anônimo disse...

puta merda, você é boa demais!!! chapei no texto!!! beijocas da sua fã, Erika Ridel