sexta-feira, 1 de maio de 2009

Marcas na pele

A massa se move no firmamento num vôo largado, num sono de morte que se repete desde tempos imemoriais. Sem destino nem esperança, como nave de um corpo só ela vaga pela imensidão utilizando apenas seus sensores em busca de um pouso que lhe dê alguma paz e o alimento vital. Até que sente uma suave vibração vinda de um ponto especial embaixo dela. Leve, mas o suficiente para que seus sentidos aguçados lhe indiquem o caminho, e então se deixa cair.

Quando dá por si, está numa rua erma de uma cidade qualquer, que se divide em casas de alto padrão de um lado e um condomínio de luxo do outro. Em suas bunker-guaritas, os seguranças estranham a mulher que surge de repente, mas logo desviam a atenção. Imaginam que deva ser alguma visita saindo de uma das residências, pela forma como se veste e anda.

A tarde mergulha na noite, levando com ela os derradeiros traços púrpura de um céu onde a lua começa a se impor. Embora o último fio de claridade fira seus olhos, nada é novo para essa mulher de existência trágica e solidão sem fim. Mais um vôo, mais um pouso e a certeza de que Lucius, o maldito, logo virá em seu encalço. Mas desta vez sente algo diferente, não sabe precisar o quê.

Comandada apenas pelos instintos, ela se aproxima do ponto exato que a atraiu: uma janela no segundo andar de um casarão branco. Em segundos, Aurélia se vê lá dentro, invisível a olhos humanos. É um quarto de rapaz, que cochila sobre os livros. Do computador ligado sai música agitada, percussiva. Ele acorda como que pressentindo algo, olha para trás aparentemente incomodado, mas logo decide esticar o corpo na cama, vestindo apenas uma bermuda justa. Aurélia aproveita para observar o garoto num sono à solta, barriga para cima, braços cruzados sob a cabeça, um pé apoiado em ângulo sobre a outra perna dobrada, totalmente relaxado.

É a mais pura beleza em pele bronzeada, músculos precisamente definidos. Não deve ter mais que 17 anos. Sua vontade é pular sobre ele e sugar sua vida, mas Aurélia se contém. Para ela só vale se for consentido, nem que a sedução seja trabalhosa. Com esse propósito, vaga pelo quarto em busca de dados sobre a presa. Pelos livros na escrivaninha, descobre que está no cursinho e se prepara para o vestibular de Odontologia. Pelas fotos, vê que é de família abastada, viaja bastante, tem um irmão mais velho, uma irmãzinha pequena e muitos amigos.


Quer saber como essa história termina? Clique aqui para ver o desenrolar dessa trama .

(*) Texto feito em parceria Laura Fuentes & Petê Rissati, do Vermelho Carne

2 comentários:

sanpoetrilhas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Beatriz disse...

umas tardes minhas já megulharam assim em noites dessas. Mulher e Homão, tá mais lindo, mais leve e mais fino do que um texto da fera Clarice. De verdade! Eita, escritores, analistas, babalorixás, babalaôs.meu divã ficou aqui. Não me deito em higienópolis. Deito-me aqui e me reconheço. eita!
Os marcadores do postado confirmam: abusaram no atrevimento eróticomanete lindíssimo..(pornto adjetivei;))