domingo, 4 de dezembro de 2011

Bafinho ou bafão?



Roberto jamais soube porque o nosso caso não foi para frente. Trabalhávamos juntos, tinhamos o incentivo de todos os colegas, valores e histórias parecidos. Havia atração e éramos livres, por que não tentar? Certo dia, resolvemos conferir toda aquela cisma amorosa. E ele bem que tentou, coitado. Foi carinhoso e eficiente nas suas manobras, mas simplesmente não conseguiu me empolgar. Quem diz que mulher não broxa?



Até hoje lamento essa impossibilidade, mas não dava para ignorar um terceiro elemento que se interpôs entre nós: o cheiro que desprendia de seu corpo e de sua boca, intolerável para mim, e que se acentuava cada vez mais, conforme ele transpirava no esforço de me agradar. Cheguei a ter náuseas. Foi constrangedor.


Curioso é que, tempos depois, Roberto foi alvo da paixão de uma colega linda, poderosa e casada, com quem manteve um tórrido romance que durou anos. Para ela, decerto o cheiro do meu amigo era atraente. Ou seja, o que repulsa um, pode ser o mesmo que atrai outro.


Parecia que esse espisódio frustrante estava sepultado dentro de mim para sempre, até que, dia destes, ao ler a última revista piauí, o artigo "Delação anônima" me remeteu a ele direto, e sem escalas. Fala de uma recém inaugurada Associação Brasileira de Halitose - ABHA, voltada para atender pessoas que querem dizer a alguém que ele tem bafo, mas sentem-se constrangidas de fazê-lo pessoalmente. Assim, a "vítima" recebe uma carta-padrão em sua residência ou trabalho, cujo texto é algo como "Um amigo próximo a você solicitou que entrássemos em contato para alguns esclarecimentos". Cheio de dedos, o texto discorre sobre as causas e o diagnóstico do mau hálito e oferece ajuda para informar, esclarecer ou mesmo indicar um profissional qualificado, garantindo o anonimato de quem teve a iniciativa.


Refletindo aqui com meus botões, busco na memória aquela velha história com o Roberto e as diferentes reações que ele provocava, e isso me leva à seguinte pergunta: fora os casos confirmadamente patológicos, você não acha que muitas injustiças poderão ser cometidas a partir desse novo serviço de delação anônima? Até porque cheiro e olfato são definitivamente coisas muito pessoais. Mas, na dúvida, antes se jogar fisicamente numa conquista, não custa nada, antes, conferir o bafo.

Na dúvida, já avisei meus amigos, meu amor e os parentes: se um dia parecer que eu comi um rato podre, por favor, me chama num canto e me diga isso baixa, discreta e amorosamente... não envolva mais ninguém nesse vexame.

2 comentários:

Maurício Mellone disse...

Laura:
concordo com vc que a tal da ABHA pode resolver o problema do hálito em casos patológicos. Mas há cheiros e cheiros, né? E o gosto pessoal é que deve prevalecer.
bjs
Maurício

Rosa disse...

Perfeito Laura! Sutilmente e amorosamente! Cheiro, é muito pessoal, e como mesma disse: O que desagrada uns pode ser agradável a outros.
Eu, particularmente, sou ligadíssima em cheiros; e definitivamente brocharia.
Beijos!