"Aprendi com as primaveras a me deixar cortar
para poder voltar inteira"
(Cecília Meirelles)
Basta chegar perto do clube escondido na discreta ruela que ele se transforma. Sem que se aperceba, o senhor altivo e encorpado vai encolhendo os ombros, baixa o olhar, e até parece hesitar ao pagar o táxi. Com passos inseguros, atravessa a calçada e toca a campainha do sobradão. É recebido pelo funcionário de forma cortês, quase afetiva.Afinal, trata-se de um velho freqüentador. Olá, doutor Mendonça, como tem passado? Vamos? E, sem mesmo esperar resposta, o conduz pelo salão protegido do sol por pesadas cortinas de veludo até a nobre escadaria. Juntos, seguem até o final do corredor do segundo andar, onde fica a sala à prova de som. Abrindo a porta pesada de madeira escura e trabalhada, diz ao visitante Fique à vontade, ela já o atenderá.
Ao ver-se sozinho, é tomado por um calafrio, transpiração gelada. Larga a pasta de documentos no sofá. As velas, muitas, conferem ao espaço uma luz bruxuleante. Da caixa de som sai um rock metal de inspiração medieval, tal qual os instrumentos dispostos nas paredes. O cenário, sinistro, recende a vela, sândalo e esperma. Devagar, vai tirando o paletó, a camisa de linho com suas iniciais bordadas, as calças e os sapatos de cromo. Fica só de cueca e regata, brancas e muito engomadas. Por longos dez minutos, espera em pé, mal suportando a ansiedade. Mas assim que toma coragem de se acomodar na ponta do sofá, abre-se a porta. Quem mandou você sentar, heim? Só de ouvir aquela voz grave e forte, o coração dispara. Num salto ele se levanta, com jeito de criança pega durante a traquinagem, e volta para o chão os olhos chorosos.
Você anda muito folgado, e está precisando de um castigo, diz a mulher, enquanto se aproxima, segura o rosto do homem entre as mãos e sussurra carinhosamente: Você tem sido mau e precisa de um corretivo, não é, Binho? Ao ouvir o apelido de infância, ele treme. Sabe que, a partir dali, o comando estará nas mãos dela. Quer responder, mas as palavras não saem. Concorda com a cabeça. Muito bem, querido, então tira esse resto de roupa e senta aqui, diz apontando uma mesa metálica, enquanto se vira para selecionar os artefatos que darão o tom à sessão: a mordaça de couro que ata ao rosto dele com ganchos por trás da nuca; e a coquilha negra para os genitais que ele veste sozinho, ajustando-o à cintura, com mãos febris.
Pode ir deitando, enquanto escolho aqui algo bem especial para hoje... De bruços, ele nem bem se refaz do choque da pele queimando e o frio do metal, quando ouve o primeiro zunido da vara no ar seguido de um ardido na região dos rins. Esta foi prá você nunca mais folgar nos meus aposentos, compreendeu bem? E, agora mais esta prá você nunca se esquecer disso...e mais esta... Seguem-se golpes em diferentes lugares. A cada um, Albino bufa como animal enjaulado, rosto de lado, olhar fixo cravado nas botas da sua Senhora. Para aumentar a sensação, na seqüência ela se coloca bem grudada ao rosto dele, de forma que possa cheirá-la, enquanto passa a esfregar pedras de gelo em suas costas, tornando nítidos os vergões naquela pele clara. Outra tortura. E um transe que mistura pavor, excitação e submissão total.
Aquilo dura uma eternidade. Em certo momento, ela agarra os cabelos de Albino para fazê-lo sentar. Agora estapeia-lhe o rosto dizendo: Sua coisa inútil. Não vá pensando que acabou, viu? E o empurra para que se deite, barriga para cima. Então deixa ver qual presente o Binho merece hoje... Hã, hã, achei aquilo que você adora,diz enquanto levanta as pernas do homem que fica, assim, dobrado em si mesmo, nádegas expostas para o açoite. E, como quem pune um cativo, ela vai desferindo as chibatadas, repetindo alto e forte as reprimendas. Albino retorce-se. Dor. A cada pancada, as veias do pescoço dilatam-se mais e mais. Vermelho vivo. Excitação tão visível que o protetor genital parece querer estourar. Nem pense em gozar agora, rapaz! Isso só pode acontecer se eu achar que deve, e na hora que eu permitir, está ouvindo bem?
O homem não agüenta mais. Mas recebe a ordem de sair da mesa e se ajoelhar no chão. Nesse momento, descontrolado, começa a beijar e a lamber as botas da Senhora, gemendo para páre os castigos. Como você ousa tocar em mim sem permissão? Então ela afasta-se daquele cão amordaçado e louco, pega da parede um chicote, o maior deles, e judia daquele corpo, incluindo os genitais.
Cada vez que o couro bate e depois escorre pele abaixo, ele se contorce. Nos segundos que antecedem o próximo golpe, começa a implorar para que pare. Está a ponto de sangrar. Até que, finalmente, não suportando mais os castigos, ele grita a senha – aquela redentora: “ESPELHO!” É chegado o limite. Ela pára imediatamente, joga o chicote no chão, senta-se na cadeira-trono, tira um dos peitos para fora, e diz Pode vir, minha criança. Acho que você já aprendeu a lição. E assim, arfando, ele solta a mordaça, engatinha até a Rainha, escala sofregamente suas pernas, cheira sua vulva, e então alcança com a boca o seio oferecido, enquanto o corpo se esvai num orgasmo poderoso. Êxtase total.
.......................................
- Oi Mendonça, tudo bom? Tá doido homem, bebendo antes da nossa partida?Cadê sua raquete?
- Hoje não vou jogar não. Passei só para comemorar com vocês a fusão. Logo mais vai ter um jantar lá em casa para festejar a novidade com os filhos e os netos. Mas não sei o que aconteceu com as minhas costas, elas estão me matando...
Um comentário:
Laurinha voltando de férias com inspiração total.
Aff, que agonia esse conto... cada chibatada era uma pontada aqui.
Minhas costas também dóem... hihihihi
Beijão
Postar um comentário