quinta-feira, 28 de julho de 2011

Mutilação





Ando sensível, mais parecendo um ouriço arrepiado, e tudo me faz refletir. Dia destes, conversando com amigos, soube o que um marido, na sua extrema simplicidade, disse para a mulher, recém-diagonosticada com câncer, e que teria que passar por uma mastectomia, o que para ele era uma forma de consolo: Não fica triste, não. Prá que eu preciso de dois peitos se eu tenho uma boca só?


Alguns o julgaram grosseiro. Já eu procurei ver o quanto tinha de compaixão naquelas palavras singelas, uma espécie de promessa de cumplicidade, acolhimento e companheirismo frente a uma situação que abala qualquer mulher com uma fúria descomunal.


Esse caso me fez lembrar o velho mito das amazonas, guerreiras da antiguidade que, segundo a lenda, tiravam o seio direito para melhor manejar o arco e a flexa, e assim defenderem os seus domínios. Consideradas Deusas da Guerra, as amazonas odiavam os homens (que insistentemente tentavam usurpar seus bens e seu território) e viviam em comunidades só de mulheres na Capadocia (região rochosa que hoje pertence à Turquia). Se elas existiram de fato, se é mito ou lenda, não se pode afirmar. Mas há um pé de verdade nisso, porque etmologicamente falando, a palavra amazonas vem de "a-mazós", ou seja, "sem-seios".


Essa digressão me leva à seguinte questão: em que espécie de amazonas nós, mulheres, nos transformamos, já que - com ou sem peitos - vimos sendo levadas a nos defender com tudo o que podemos contra todo o tipo de ameaça? E, nesse processo de defesa, quanto da nossa feminilidade vamos perdendo pelo caminho?

5 comentários:

Laila Guilherme disse...

Sensível é sua interpretação de uma frase que, realmente, tentou ser um consolo. E quantas vezes falamos frases assim, com a melhor das intenções, e soamos agressivos?

Ricardo Delfin disse...

Sua interpretação das palavras do marido me fez refletir como somos rápidos para julgar, sem realmente entendir o sentido das coisas.

Denize Muller disse...

Temos as armas nas mãos e nas falas.Temos a dureza no dizer, e criamos calos, cistos, travamentos no corpo. E perdemos,sim, a leveza, a leveza....

Petê Rissatti disse...

Muitas vezes as pessoas são incompreendidas pelo que elas têm de melhor: a verdade. Por isso a sociedade está como está, com o politicamente correto corroendo o que havia de sorriso entre nós. Lindo, sempre, Laurinha.

Maurício Mellone disse...

Laura:
Sua visão sobre a resposta do marido é abrangente. Se a princípio ele poderia ser considerado grosseiro, no fundo é companheiro e cúmplice na vida da amada!
E a comparação da mulher de hoje com as amazonas é sublime. No movimento de emancipação, a mulher precisou ir à luta. Hoje, com as conquistas, ELA continua a defender fronteiras. Mas a sensibilidade e a afabilidade não podem ser esquecidas!
bjs e parabéns
Maurício