É curioso como a vida se dá em camadas e sempre nos surpreende. A frase pode parecer banal, mas o comentário é legitimo para todos aqueles que se dispuserem a prestar atenção em Dona Branca. Ela mudou-se há pouco para o prédio em que moro, e circula pelo bairro sempre elegante, perfume lembrando rosas, cabelos bem cortados e tingidos de louro escuro, vez por outra conduzindo Nicolas, seu cão salsicha. Já cruzei com ela na ioga, no cinema, rodeada de amigos em restaurantes, ou voltando da feira com braçadas de alegres flores do campo.
Dá gosto observá-la. Dona Branca certamente já ultrapassou os setenta, o que não a fez em nada perder a energia. Nas reuniões de condomínio é a mais articulada, com aquele timbre enfático de quem parece ter sido professora, ou talvez advogada. Simpática, porém discreta, dela sabemos pouco, exceto que recebe muitas visitas. Talvez os taxistas do ponto vizinho sejam melhor informados, uma vez que ela é assídua cliente deles.
Dia destes tomei conhecimento de outra senhorinha que está dando o que falar. Trata-se da professora aposentada Jane Juska que, perto de contabilizar três décadas de jejum sexual, cansada de procurar parceiros em festas e bares em vão, resolveu trocar de estratégia, e publicou o seguinte anúncio num jornal de literatura de Nova York: “Antes de completar 67 anos eu gostaria de fazer muito sexo com um homem de quem eu goste”.
Divorciada e com filho maduro, ela imaginava que teria, no máximo dois ou três retornos. Mas sua caixa postal recebeu 63 respostas. Frente a tanta fartura, Jane pôde até se dar ao luxo de escolher. Marcou encontros com vários pretendentes, e conta que, com quatro deles, fez sexo de verdade. Detalhe: os rapazes variavam dos 32 aos 82 anos. A experiência foi tão bem sucedida que ela, fortalecida, partiu para outro ato de coragem ao publicar o livro Uma Mulher de Vida Airada – Memórias de Amor e Sexo depois dos 60 (Editora Rocco), que chega ao Brasil nesta semana.
Sua justificativa: “A maioria das pessoas de idade, em especial as mulheres, têm medo de correr riscos. Preferi agir a esperar que alguma coisa acontecesse”. Tanta ousadia mudou a vida dessa mulher que hoje está com 75 anos, conquistou um namorado e teve seu livro publicado em vários países.
Ao ler esta notícia, não tive como não pensar na Dona Branca. E ri bastante quando compreendi, finalmente, aquela olhadinha discreta que ela deu, dia destes, no meio das pernas do meu namorado, seguido de um semi-sorriso que eu podia jurar que era safado. Afinal, tenho agora a real dimensão do quanto extensa pode ser a vida útil de uma mulher. Jane e Branca podem, orgulhosas, provar ao mundo que fantasia não tem idade.
(*) A matéria inteira sobre Jane Juska e seu livro está na revista Época on line
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Crônica da vida útil
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7 comentários:
E eu que por vezes caio na armadilha de achar que certos pensamentos não condizem com minha idade. Beijo, adorei a crônica.
Ah, Laura, todas são Divas como esta aqui que
Nasce festa, cresce aos saltos,
Roça de leve quando passa,
É de éter.
Quando pisa, rasga a vida,
É lava de libido.
Escorre brilho pela fresta
Do olho da outra.
É espelho
Quando é a mesma.
Quando veste seda e renda,
Coleira de pérola,
Brinca com a pele nua.
Quando quer mostra o gênio,
É deusa.
É altiva, quando vadia.
Diva é vento,
Leva o medo e traz a graça.
Em cada poro é alegria.
Quando é triste, faz troça,
Esconde a dor atrás dos dentes,
Dissimula meia vista
E mostra a língua.
sensacional!!! palmas pra Jane e pra Dona Branca. Se eu estiver sozinha quando eu chegar na idade da jane, já sei o que fazer...hehehe, beijos e saudades! Erika
Olha só, dona Laura, conseguiu até poesia da Compulsão Diária. Linda ela, não é mesmo?
E Dona Branca, então. Eta mulherzinha porreta. Gosto de quem está na frente, sempre à frente. Como você também.
Aposto que você será bem Dona Branca quando crescer... hihihi
Beijos muitos
Hummm, dona Branca e Dona Jane, são das minhas...rsrs
Adorei a crônica, vc como sempre interessante.
Obrigada pelas palavras no meu blog, te admiro e acho que se nos conhecessemos, perderíamos horas das nossas vidas num bate papo...
tenha um lindo e doce final de semana.
Bjs
Adorei a crônica, Laurinha. E a imagem que você utilizou encaixa-se perfeitamente na história.
Parabéns.
Um beijo, Claudia
Laurinha!
Jane / Branca, cuide bem de seu namorado. Torça para que ele não tenha percebido a olhada de D. Branca, senão....., vai saber, essas senhoras, são fogo puro!
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